Arte de Adele Aldridge
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Inexperiência é uma
espada de dois gumes. Isso leva a cometer erros, mas os erros são necessários
para aprender. Não finja conhecimento. Procure a experiência e pergunte o que
você não conhece. Com o tempo, todas as lacunas no conhecimento serão preenchidas.
O Sábio só virá em nossa ajuda se tivermos uma
atitude correta, se confiarmos no Poder Superior, no TAO. Se formos céticos,
cínicos ou hostis, ele permanecerá distante e as resposta serão sempre
incompreensíveis.
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A
Insensatez Juvenil
Este
hexagrama nos apresenta a juventude e a insensatez de duas maneiras. O trigrama
superior, Kên, tem como imagem a montanha e o inferior, K’an, tem como imagem a
água. A fonte que brota no sopé da montanha é a imagem da juventude
inexperiente. O atributo do trigrama superior é a Quietude, o atributo do
inferior é o Abismai, perigo. Manter-se imóvel e perplexo diante de um perigoso
abismo é também um símbolo de Insensatez Juvenil. Mas os dois trigramas indicam
ainda o caminho através do qual a Insensatez Juvenil pode ser superada. A água
tende necessariamente a seguir fluindo. Quando a fonte brota, não sabe, a
princípio, para onde se dirigirá. Entretanto, através de seu constante fluir
preenche as depressões que impedem seu progresso e assim atinge o sucesso.
JULGAMENTO
A INSENSATEZ JUVENIL tem sucesso.
Não sou eu quem procura o jovem insensato,
é o jovem insensato quem me procura.
À primeira consulta eu respondo.
Se ele pergunta duas ou três vezes,
torna-se importuno.
Ao que se torna importuno não dou nenhuma
informação.
A perseverança é favorável.
Na
juventude a insensatez não chega a ser um mal. Apesar dela, podemos chegar ao
sucesso. Para isso é necessário encontrar um instrutor experiente e ter a
atitude correta em relação a ele. O jovem deve em primeiro lugar reconhecer sua
inexperiência e procurar o instrutor. Somente tal modéstia e interesse podem
assegurar-lhe encontrar a necessária receptividade expressa na respeitosa aquiescência
por parte do instrutor. Este deve esperar tranqüilamente até ser procurado. Não
deve oferecer-se espontaneamente. Só assim poderá a instrução se realizar no
tempo certo e do modo adequado.
A
resposta de um instrutor à pergunta do aprendiz deve ser clara e precisa como a
que deseja obter aquele que consulta o oráculo. Ela deve então ser aceita como
chave para solução de dúvidas e como base para decisão. A insistência em
perguntas tolas e desconfiadas serve apenas para incomodar o instrutor que deve
ignorá-las em silêncio, assim como o oráculo que responde apenas uma vez,
recusando as questões movidas pela dúvida.
Finalmente,
valendo-se ainda da perseverança que não enfraquece até dominar, ponto por
ponto, a aprendizagem, se chegará a um grande sucesso. O hexagrama aconselha,
então, tanto ao instrutor quanto ao aprendiz.
IMAGEM
Uma fonte surge na base da montanha:
a imagem da juventude.
Assim o homem superior fortalece seu
caráter
graças à meticulosidade em tudo que faz.
A
fonte consegue fluir e superar a estagnação, preenchendo todas as depressões
que encontra em seu caminho. Do mesmo modo, a formação do caráter consiste na
meticulosidade que nada omite, porém, como a água, contínua e gradualmente
preenche todos os espaços vazios e assim segue adiante.
LINHAS
Seis
na primeira posição significa:
Para
fazer com que o insensato se desenvolva
é
favorável aplicar a disciplina.
Deve-se
remover os grilhões.
Continuar
assim traz humilhação.
A lei
é o começo da educação. A juventude, em sua inexperiência, tende, ao início, a
encarar tudo de maneira descuidada, como uma brincadeira. Deve-se então
mostrar-lhe a seriedade da vida. É benéfico procurar o autodomínio através de
uma rigorosa disciplina. Aquele que brinca com a vida nada realizará. Mas a
disciplina não deve degenerar em um treinamento militar, pois com o tempo isso
teria um efeito humilhante sobre o educando, bloqueando até mesmo suas forças.
Nove
na segunda posição significa:
Suportar
aos insensatos com benevolência traz boa fortuna.
Saber
como tratar as mulheres traz boa fortuna.
O
filho está apto a administrar a casa.
Essa
linha representa um homem privado de poder externo, porém dotado da necessária
força espiritual para suportar o peso de suas responsabilidades. Ele possui a
superioridade interior e a força que lhe permitem tolerar gentilmente as
deficiências decorrentes da insensatez humana. Frente às mulheres enquanto sexo
mais fraco, cabe uma atitude semelhante.
Deve-se
compreendê-las e mostrar-lhes reconhecimento com um espírito cavalheiresco.
Somente unindo força interna e discrição externa se poderá assumir a
responsabilidade do comando de um organismo social de maiores proporções e
obter um verdadeiro sucesso.
Seis
na terceira posição significa:
Não
tome a uma jovem que,
ao ver
um homem de bronze,
perde
o domínio de si mesma.
Nada é
favorável.
Uma
pessoa fraca e inexperiente, lutando para ascender, perde facilmente sua
própria individualidade se, diante de uma personalidade forte numa alta
posição, passa a imitá-la como um escravo. Essa atitude assemelha-se à de uma
jovem que logo se entrega ao encontrar um homem forte. Não se deve ser
complacente para com tal aproximação servil, pois isso seria nocivo tanto para
o educando quanto para o educador. A dignidade de uma jovem exige que ela
espere até ser cortejada. É, pois, indigno tanto oferecer quanto aceitar tal
oferecimento.
Seis
na quarta posição significa:
Insensatez
juvenil limitada traz humilhação.
Não há
esperanças para a insensatez juvenil quando se deixa enredar em fantasias ocas.
Quanto mais teimosamente se aferrar a essas fantasias irreais, mais atrairá
humilhações sobre si.
Diante
da limitada insensatez, freqüentemente o educador não terá outra saída senão
abandoná-la a si própria durante algum tempo, sem protegê-la da humilhação
decorrente de seu comportamento. Muitas vezes este é o único caminho para a
salvação.
Seis
na quinta posição significa:
Insensatez
infantil traz boa fortuna.
Uma
pessoa inexperiente que busca instrução com simplicidade, como uma criança, tem
tudo a seu favor. Pois aquele que sem arrogância se subordina ao instrutor será
certamente auxiliado.
Nove
na sexta posição significa:
Ao
castigar a insensatez,
não é
favorável cometer abusos.
É
favorável apenas coibir abusos.
Às
vezes, um insensato incorrigível deve ser punido. Aquele que não dá ouvidos às
advertências deve sentir as conseqüências em sua própria carne. A punição aqui
difere de quando sacudimos alguém pela primeira vez, repreendendo-o por seu
erro. Mas a aplicação da punição não deve ser conduzida com raiva, e sim
limitar-se a uma defesa objetiva contra abusos injustificados. O castigo nunca
é um fim em si mesmo. Deve servir apenas ao restabelecimento da ordem. Isso se
aplica tanto à educação, quanto às medidas de um governo frente a uma população
culpada de abusos. A intervenção do governo deve ser sempre preventiva e ter
como único objetivo a segurança e a tranqüilidade públicas.
Fonte: I Ching, o Livro
das Mutações – Richard Wilhelm