Imagem de Adele Aldridge |
O Receptivo é o
hexagrama que denota "devoção" e o espírito da Terra.
O hexagrama "o
receptivo" muitas vezes tem o forte significado de um ato consciente de
devoção e uma vontade de manter a pessoa, princípio ou força que nos sustenta,
nos guia ou nos enche de energia.
É necessário um
terreno fértil para a criação.
Aceite o que vem em sua vida, assim como a terra
recebe tudo o que jogamos nela.
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O Receptivo
Este hexagrama se compõe de seis linhas
abertas. A linha aberta representa o poder primordial obscuro, maleável e
receptivo de Yin. O atributo do hexagrama é a devoção e sua imagem, a terra. É
o perfeito complemento do Criativo, a contraparte, não seu oposto, pois o
Receptivo não combate o Criativo, mas o completa. Representa a natureza em
contraste com o espírito, a terra em contraste com o céu, o espaço em contraste
com o tempo e o feminino-maternal em contraste com o masculino–paternal.
Aplicado ao âmbito humano o princípio
dessa relação complementar encontra-se tanto nas relações entre homem e mulher
quanto entre príncipe e ministro, e entre pai e filho.
Mesmo no interior do indivíduo esta
realidade aparece na coexistência do mundo espiritual com o mundo dos sentidos.
Não se deve, entretanto, ver aqui um
real dualismo, pois existe entre os dois princípios um relacionamento
claramente definido em termos hierárquicos. O Receptivo em si é, evidentemente,
tão importante quanto o Criativo, mas o atributo da devoção define a posição
desse poder primordial em relação ao Criativo. O Receptivo deve ser ativado e
dirigido pelo Criativo, quando, então, produzirá resultados benéficos.
Só quando abandona essa posição e
tenta colocar-se ao lado do Criativo como um ser igual torna-se nefasto. A
conseqüência seria, então, oposição e luta contra o Criativo, trazendo
infortúnio para ambos.
JULGAMENTO
O RECEPTIVO traz sublime sucesso,
propiciando através da perseverança de uma égua.
Se o homem superior empreender algo e tentar dirigir,
ele se desviará; porém se ele seguir, encontrará orientação.
É favorável encontrar amigos a oeste e ao sul,
evitar amigos a leste e ao norte.
Uma perseverança tranquila traz boa fortuna.
Os quatro aspectos fundamentais do
Criativo — “sublime sucesso, favorecido através da perseverança” — são também
atribuídos ao Receptivo. Aqui, porém, a perseverança é definida com maior
precisão como sendo a de uma égua. O Receptivo designa a realidade espacial em
contraste com a potencialidade espiritual do Criativo. O potencial torna-se
real e o espiritual torna-se espacial através de uma definição especificamente
qualificativa que limita e individualiza. Por isso a qualificação “de uma égua”
é adicionada à idéia de “perseverança”. O cavalo pertence à terra como o dragão
ao céu. Percorrendo incansavelmente a vastidão das planícies, o cavalo
simboliza a imensa extensão da terra. A égua foi escolhida como símbolo porque
combina a força e a agilidade do cavalo com a docilidade e a devoção da vaca.
E apenas porque a natureza, em suas
incontáveis formas, corresponde aos incontáveis impulsos do Criativo, que ela
pode realizá-los. A riqueza da natureza jaz em seu poder de alimentar todos os
seres, e sua grandeza em seu poder de lhes conceder beleza e esplendor. Assim
ela faz prosperar tudo que vive. Enquanto o Criativo gera os seres, estes são
partejados pelo Receptivo. Aplicado ao âmbito humano o hexagrama indica que se
deve agir em conformidade com a situação. Trata-se aqui de alguém que não se
encontra numa posição independente, e sim atuando como assistente. Isso
significa que ele deve realizar algo. Não é sua tarefa tentar dirigir — isso
apenas o desviaria de seu caminho — e sim se deixar conduzir. Se ele souber
enfrentar o destino com uma atitude de aceitação, certamente encontrará a
orientação correta. Aqui o homem superior se deixa conduzir. Não avança às
cegas, mas aprende a ver nas circunstâncias o que se espera dele, seguindo
então esta exigência do destino.
Já que se deve realizar algo, são necessários
auxiliares e amigos na hora do trabalho e do esforço, quando as idéias a serem
cumpridas estiverem firmemente estabelecidas. O tempo do trabalho e do esforço
é indicado pelo oeste e pelo sul, pois o sul e o oeste simbolizam o lugar onde
o Receptivo trabalha para o Criativo – como a natureza no verão e no outono. Se
todas as forças não forem reunidas, o trabalho a ser realizado não será
efetuado. Por isso encontrar amigos significa, aqui, realizar uma tarefa. Mas
além do trabalho e do esforço há também um tempo de planejar, e para isso se
requer solidão. O leste simboliza o lugar em que um homem recebe ordens de seu
mestre e o norte, o lugar em que presta contas do que realizou. Neste momento
ele precisa estar só e ser objetivo. Nesta hora sagrada ele deve evitar os
companheiros, para que a pureza do momento não seja maculada pelo ódio e pela
parcialidade.
IMAGEM
A condição da terra é a devoção receptiva.
Assim o homem superior com sua grandeza de caráter
sustenta o mundo externo.
Assim como só existe um céu, existe
apenas uma terra. No hexagrama do céu a repetição do trigrama significa duração
no tempo; no hexagrama da terra essa repetição de seu trigrama significa a
extensão no espaço e a firmeza com que a terra sustenta e preserva tudo o que vive
e se move sobre ela. Em sua devoção, a terra sustenta, sem exceção, todas as
coisas, boas e más. Assim, o homem superior torna seu caráter amplo, puro,
resistente, de modo a poder dar apoio aos homens e às coisas.
LINHAS
Seis na primeira posição significa:
Quando se caminha pela geada,
o gelo sólido não estará longe.
Assim como o poder luminoso
representa a vida, o poder obscuro e sombrio representa a morte. No outono,
quando cai a primeira geada, o poder da escuridão e do frio começa a
manifestar-se. Depois dos primeiros indícios, os sinais da morte irão se
multiplicando gradualmente, segundo leis imutáveis, até que chegue o rígido
inverno com seu gelo.
O mesmo acontece na vida. A
decadência surge, ao início, sugerida através de sinais apenas perceptíveis,
para em seguida se avolumar até a chegada da dissolução final. Porém, na vida
podem-se tomar precauções, se houver atenção aos primeiros sinais de
decadência, evitando-a a tempo.
Seis na segunda posição significa:
Reto, quadrado, grande.
Sem propósito, porém, nada permanece
desfavorecido.
O símbolo do céu é o círculo; o da
terra, o quadrado. Logo o quadrangular é a qualidade primordial da terra. Por
outro lado, o movimento retilíneo ou de primeira grandeza é também a primeira
qualidade do Criativo. Todas as figuras planas têm sua origem na linha reta e
formam, por sua vez, as figuras sólidas. Quando em matemática se estabelecem
distinções entre linhas, planos e sólidos, verifica-se que das linhas retas
resultam figuras sólidas. O Receptivo orienta-se segundo as propriedades do
Criativo e as incorpora. Assim o quadrado provém da linha reta e o cubo, do
quadrado. Isso significa a simples devoção às leis do Criativo, sem nada
acrescentar ou retirar. Por isso o Receptivo não requer nenhum propósito e nenhum
esforço especial, e tudo se desenrola da maneira adequada.
A natureza cria os seres sem erro,
mostrando-se assim retilínea. Ela é tranqüila e silenciosa, essa é a sua
condição quadrangular. A todos dá apoio com equanimidade, essa é a sua
grandeza. Por isso ela atinge o que é justo para todos, sem artifícios, sem
propósitos particulares. O homem atinge a culminância da sabedoria quando todas
as suas ações tornam-se tão auto-evidentes em si mesmas quanto as da natureza.
Seis na terceira posição significa:
Linhas ocultas. Alguém é capaz de
permanecer perseverante.
Se acaso você está a serviço de um
rei,
não procure trabalhos, porém leve à
conclusão.
Se um homem está livre de vaidade,
será capaz de ocultar suas habilidades de modo a não atrair a atenção cedo
demais. Assim poderá atingir a maturidade em paz.
Se as circunstâncias o exigirem, ele
poderá entrar na vida pública, porém de forma discreta. O sábio deixa de bom
grado a fama a outros. Ele procura liberar forças eficazes, sem se preocupar em
ter atribuído a si os méritos do trabalho já realizado, isto é, ele completa
suas obras de modo a serem frutíferas para o futuro.
Seis na quarta posição significa:
Saco amarrado. Nenhuma culpa. Nenhum
elogio.
O princípio da escuridão abre-se
quando em movimento e fecha-se quando em repouso. A mais rigorosa reserva é
aqui indicada. O momento é perigoso; qualquer sinal de proeminência levará à
animosidade por parte de adversários mais fortes caso o homem os desafie, ou a
um falso reconhecimento baseado numa incompreensão, caso seja complacente. Ele
deve, portanto, manter a reserva, seja na solidão ou no turbilhão do mundo,
pois, também aí, poderá ocultar-se de modo a passar desapercebido.
Seis na quinta posição significa:
Roupa de baixo amarela traz suprema
boa fortuna.
O amarelo é a cor da terra e do
centro, o símbolo do que é autêntico e digno de confiança. A roupa de baixo é
discretamente adornada, símbolo de aristocrático recato. Quando alguém é
chamado a atuar numa posição de destaque, porém, não independente, o verdadeiro
sucesso dependerá de rigorosa discrição. A autenticidade e o refinamento não
devem destacar-se diretamente, porém devem expressar-se apenas de modo indireto
como um efeito que surge do interior.
Seis na sexta posição significa:
Dragões lutando no prado.
Seu sangue é negro e amarelo.
No ponto mais alto, o obscuro deve
ceder ao luminoso. Se tentar manter uma posição que não lhe corresponde e, ao
invés de servir, pretender dirigir, atrairá sobre si a ira do forte. O
resultado é uma luta na qual o obscuro será derrubado, porém com prejuízos para
ambas as partes. O dragão, símbolo do céu, vem combater o falso dragão que
simboliza a atitude pretensiosa do princípio terrestre. O azul-noite é a cor do
céu, o amarelo é a cor da terra. Quando, portanto, o sangue negro e amarelo é
derramado, isso indica que nessa luta antinatural os dois poderes primordiais
sofrem dano.
Quando todas as linhas são seis, isso
significa:
A perseverança constante é favorável.
Quando se tem apenas seis, o hexagrama
do Receptivo transforma-se no hexagrama do Criativo. Permanecendo firme no que
é correto, conquista-se o poder da perseverança. Não há nenhum progresso, mas
também nenhum retrocesso.
Fonte: I Ching, o Livro das Mutações – Richard Wilhelm