O símbolo desse hexagrama é a montanha, o filho mais moço do
céu e da terra. O masculino está acima, pois essa é a tendência de sua
natureza. O feminino está abaixo, na direção do seu movimento próprio. Assim,
faz-se o repouso, pois o movimento chegou a seu término natural.
Quando aplicado ao homem, o tema do hexagrama consiste na
busca da serenidade do coração. É muito difícil acalmar o coração. Enquanto o
Budismo aspira à quietude através de uma extinção de todo movimento no Nirvana,
o Livro das Mutações sustenta que a quietude é somente um estado de polaridade
que tem como constante complemento o movimento.
Talvez as palavras do texto contenham indicações para a
prática do yoga
JULGAMENTO
A QUIETUDE. Mantendo imóveis as
costas,
ele não mais sente seu corpo.
Ele se dirige ao pátio e não vê sua
gente.
Nenhuma culpa.
A verdadeira quietude consiste em manter-se imóvel quando
chega o momento de se manter imóvel, e avançar quando chega o momento de
avançar. Deste modo o repouso e o movimento permanecem em harmonia com as
exigências do tempo, e a vida se ilumina.
O hexagrama representa o fim e o começo de todo movimento.
As costas são mencionadas porque nelas se encontram todas as fibras nervosas
mediadoras do movimento. Quando estes nervos dorsais são postos em repouso é
como se o eu, com suas inquietudes, desaparecesse. Quando o homem alcança esta tranquilidade
interior, pode se dirigir ao mundo externo e já não verá mais nele a luta e o
tumulto dos seres individuais. Tendo atingido a verdadeira paz, ele poderá,
então, compreender as grandes leis do universo e agir em harmonia com elas. A
ação que tem suas origens nesses níveis mais profundos não errará.
IMAGEM
Montanhas próximas umas das outras:
a imagem da QUIETUDE.
Assim, o homem superior não deixa
seus pensamentos
irem além da situação em que se
encontra.
O coração pensa constantemente. Isso não se pode mudar. Mas
os movimentos do coração — isto é, os pensamentos — devem se limitar à situação
de fato, ao contexto atual da vida. Todo pensar que transcende o momento apenas
faz sofrer o coração.
LINHAS
Seis na primeira posição significa:
Mantendo imóveis os dedos do pé.
Nenhuma culpa.
É favorável uma constante
perseverança.
Manter imóvel os dedos do pé, significa deter-se antes mesmo
de começar a se mover. O começo é o momento em que se cometem poucos erros.
Ainda se está em harmonia com a inocência original. Veem-se as coisas
intuitivamente, tais como são, sem se deixar obscurecer por interesses e
desejos. Aquele que se detém ao começo, enquanto ainda não se afastou da
verdade, encontra o caminho correto. Porém, é necessária uma constante firmeza que
evite deixar-se levar pela irresolução.
Seis na segunda posição significa:
Mantendo imóveis as pernas.
Ele não pode salvar aquele a quem
segue.
Seu coração não está alegre.
A perna não pode se mover independentemente. Ela depende do
movimento do corpo. Se o corpo está em vigoroso movimento e a perna, súbito, se
detém, o impulso do corpo provoca a queda.
O mesmo ocorre com o homem que segue alguém de personalidade
mais forte que a sua; ele é arrastado. Mesmo quando consegue se deter,
percebendo que segue um caminho errôneo, não poderá reter o outro em seu
vigoroso movimento. Quando o dirigente força o avanço, seu subalterno, por
melhores que sejam suas intenções, não poderá salvá-lo.
Nove na terceira posição significa:
Mantendo imóvel o quadril.
Rigidez na região do osso sacro.
Perigo.
O coração sufoca.
Isso se refere a uma tranquilidade forçada. Procura-se
dominar a agitação do coração por meio da violência. Porém, o fogo, ao ser
abafado, transforma-se numa fumaça acre que vai asfixiando à medida que se
espalha.
Do mesmo modo, em exercícios de meditação e concentração não
se deve procurar forçar resultados. Ao contrário, a quietude deve surgir
espontaneamente, a partir de um recolhimento interior. Caso se procure impor a tranquilidade
através de uma rigidez artificial, a meditação poderá causar grandes
perturbações.
Seis na quarta posição significa:
Mantendo imóvel o tronco.
Nenhuma culpa.
Como foi indicado no comentário do Julgamento, manter em
repouso as costas significa esquecer o eu. A quietude chega, então, à sua
culminância. Aqui esse estágio ainda não foi alcançado. Apesar de se ter
conseguido acalmar o eu com seus pensamentos e impulsos, não se está totalmente
livre de seu domínio. Porém, ainda assim a quietude do coração é uma função
importante, e com o tempo conduz à completa eliminação dos impulsos egotistas.
Apesar de o homem não se ter libertado dos perigos da dúvida e da inquietude,
esse estado de ânimo não é um erro, pois conduz, ao final, a um nível mais
elevado.
Seis na quinta posição significa:
Mantendo imóveis as mandíbulas.
As palavras estão em ordem.
O arrependimento desaparece.
Quando um homem se encontra numa situação perigosa para a
qual não está preparado, tende muitas vezes a falar em excesso e se permitir
brincadeiras inoportunas. Mas descuidos de linguagem conduzem, muitas vezes, a
situações que mais tarde poderão ser motivo para arrependimento. No entanto,
quando se é discreto ao falar, as palavras vão adquirindo uma precisão cada vez
maior e desaparecem, então, todos os motivos de arrependimento.
○Nove na sexta posição significa:
Quietude magnânima.
Boa fortuna!
O esforço em busca da quietude atinge sua meta. A
tranqüilidade aqui alcançada não se restringe a detalhes ou circunstâncias
específicas. Há, isto sim, uma resignação em relação ao mundo como um todo, que
traz paz e boa fortuna a todos os aspectos particulares da existência.
Fonte: I Ching, o Livro das Mutações – Richard Wilhelm