Maria Eunice Sousa
Já sabemos que para um eclipse ocorrer é preciso que Sol e Lua estejam próximos ao eixo nodal. A Lua, em seu ciclo de 29,5 dias passa por este eixo duas vezes por mês, fazendo conjunção ou ao Nodo Norte ou ao Nodo Sul. Contudo, mais do que isso, sabemos que as fases da Lua acontecem em relação ao Sol, portanto, o Sol é o determinante para que tenhamos um eclipse. Assim, em sua caminhada pela eclíptica celeste, o Sol faz conjunção ao eixo nodal duas vezes ao ano, cruzando uma vez com o Nodo Norte e seis meses depois com o Nodo Sul – ou vice-versa – determinando que tenhamos duas temporadas anuais de eclipses todos os anos. O Sol leva aproximadamente 36 dias para viajar sobre o eixo nodal, 18 dias se aproximando e 18 dias se separando, então a extensão da temporada de eclipses é de cerca de 36 dias. Qualquer Lua Nova ou Cheia que aconteça durante este período, isto é, dentro da orbe de 18°21' de distância dos nodos, será, necessariamente, um eclipse. Bernadette Brady, astróloga inglesa já mencionada acima, lembra que estas temporadas de eclipses não são fixadas num determinado período do ano, uma vez que o eixo nodal trafega ao longo do Zodíaco, em movimento retrógrado, cerca de um grau e meio por mês, levando em torno de 19 meses para transitar um signo inteiro. Assim, por cerca de 19 meses, ou três temporadas, os eclipses acontecerão no mesmo eixo de signos, por exemplo, Áries-Libra, como está ocorrendo agora – e de casas no mapa natal – intercalando com o eixo anterior por uma ou duas temporadas, até que o eixo tenha migrado completamente, como o eixo Virgem-Peixes, para o qual os nodos migrarão em novembro próximo – lembre-se os eixos viajam para trás, em movimento retrógrado!
"Renderings of Earth from Johannes de Sacro Bosco's Sphaera mundi, printed in Venice, 1490 |
Muitos astrólogos consideram os eclipses – e os períodos anteriores e
posteriores a eles – como simplesmente caóticos e selvagens,
atribuindo-lhes, no geral, qualidades nefastas e maléficas, mas isso não
necessariamente é verdade. Isso porque a qualidade da família a que o
eclipse pertence tem grande influência na forma como ele se manifesta.
Sim, os eclipses pertencem a famílias, ou, melhor dizendo, a séries, as
chamadas Séries Saros. A palavra “Saros” significa repetição ou a ser
repetido e este nome foi dado pelo lexicógrafo grego Suida, já no
século X DC, muito depois de terem sido descobertas.
Projeção da sombra (umbra) da Terra dá origem aos eclipses lunares na Lua Cheia – Desconheço o autor – Reprodução |
Os babilônios tinham uma sabedoria e tecnologia estupendas. Num período
em que se pensava que a Terra era achatada, eles descobriram dados e
fatos super importantes a respeito dos eclipses, que são válidos até
hoje. Eles descobriram, por exemplo, que “um eclipse lunar só poderia ocorrer
se houvesse um eclipse solar e que eclipses lunares poderiam ou não
acontecer dentro de duas semanas, ou antes ou depois do eclipse solar”
(3), portanto, matematicamente, o eclipse solar é o determinante para os
ciclos e os eclipses lunares seriam efeitos colaterais dos solares.
Como os eclipses lunares eram muito mais óbvios, este passo foi
realmente importante no estudo dos eclipses.
Mosaico das fases de um Eclipse Total da Lua, uma Lua de Sangue – John Ashley, em Kila, Montana, USA |
Portanto, os eclipses não ocorrem isoladamente, mas pertencem a séries, a padrões maiores que podem durar mais de mil anos, com começo, meio e fim. “Durante o segundo milênio AC, aproximadamente 747 AC, os Babilônios descobriram que o mesmo tipo de eclipse ocorrerá a cada 18 anos, 11 dias e um terço, mas não necessariamente no mesmo lugar, ou seja, eles descobriram que os eclipses acontecem em séries. O mesmo padrão ocorrerá com Eclipses Anulares, parciais ou Totais. A cada 71 ciclos Saros o eclipse voltará ao mesmo lugar da eclíptica” (3). Por exemplo:
25 fev 1952 Eclipse Total do Sol a 4°43’ Peixes
7 mar 1970 Eclipse Total do Sol a 16°44' Peixes
18 mar 1988 Eclipse Total do Sol a 27°42 Peixes
Projeção do desdobramento de um Eclipse Total da Lua – Reprodução |
Brady sugere esta analogia:“Imagine todo o conceito como uma floresta. Cada Série Saros é uma árvore na floresta e cada eclipse individual é uma folha da árvore (…) Cada ciclo ou Série Saros se desenvolve por mais de mil anos, fazendo o estudo de uma série individual equivaler a sentar e assistir a uma grande árvore crescer”, diz Brady. Essa árvore certamente está envolvida em várias atividades que não somos capazes de perceber, e, porque nosso período de observação é muito curto comparado à vida da árvore, tais atividades pareceriam eventos completamente casuais ou desconectados, acrescenta ela. Entretanto, se fôssemos capazes de observar por mais de mil anos, perceberíamos o padrão se desenvolvendo vagarosamente ao longo de todo esse tempo. Ou ainda, “se entendêssemos a natureza da árvore, sua espécie e suas características, o ‘evento casual’ faria muito mais sentido sem que precisássemos ficar sentados esperando por tanto tempo”.
Falando mais claramente, cada série começa como um minúsculo eclipse parcial num pólo do globo terrestre, seja no Pólo Sul ou Pólo Norte. O eclipse inicial de uma série ocorre a cerca de 15 ou 18
Ilustração do desenvolvimento de uma
Série Saros
ao longo do globo terrestre –
Do site do Sinarj – Reprodução
|
graus de distância dos nodos. Ao longo dos anos e séculos, esta série vai “viajando” para o centro do globo e em direção à eclíptica, reduzindo cada vez mais a orbe ou distancia dos nodos, até que quando atingem a eclíptica em cheio, os eclipses ocorrem na versão “Total”. Esse movimento dura centenas de anos e leva cerca de 640 anos para que um eclipse de uma série aconteça em conjunção exata ao eixo nodal, indo, aos poucos se distanciando e fazendo o movimento inverso, tornando-se parciais de novo, até que a série finalize no Pólo oposto ao que começou, com um eclipse acontecendo aproximadamente a 18 graus atrás do eixo nodal. Percebem como os babilônios “mandavam muito bem” ao descobrir tudo isso já naquela época, sem nada da tecnologia moderna que temos hoje?
Geralmente há várias séries acontecendo simultaneamente, começando no mesmo pólo, de 19 a 21 delas, cada uma num momento diferente da vida da série. Somando-se a isso, há outras 19 ou 21 séries que iniciaram-se no pólo oposto do globo, assim a qualquer momento que se imagine, existem cerca de 42 séries ativas viajando pelo globo, metade indo de Norte a Sul e metade viajando na direção contrária. A Nasa dá números para distinguir cada série (4). A Dra. Brady utiliza a nomenclatura dada pelo astrólogo canadense Carl Jansky, cujos estudos e nomenclatura são anteriores ao site da Nasa, onde podemos pesquisar extensivamente todos os eclipses, sejam os vigentes, os do passado ou os do futuro. Assim, a Nasa utiliza uma nomenclatura numérica simples e Jansky, em cujos estudos Brady se baseia para aprofundar suas próprias pesquisas, utiliza outra terminologia, incluindo uma referência ao pólo onde a série começou. Para dar um exemplo, o eclipse do dia 13 de setembro de 2015, pertence à série 125 de acordo com a nomenclatura da Nasa. Já Jansky e Brady dizem que esta série é chamada Série Saros Norte 18, porque nasceu no Pólo Norte. Os dados da Nasa e de Jansky também divergem em outros pontos. Para Brady/Jansky uma mesma Série Saros pode ter eclipses solares e lunares, já a Nasa divide as séries de forma exclusiva, somente lunares ou somente solares; outra discrepância se dá em relação ao número de eventos de cada série, que para Brady/Jansky varia de 71 a 72 e para a Nasa chega a mais de 80. Isso nos leva ainda a outra divergência, que é a duração de cada série, que Brady aponta ser de 1.280 anos e a Nasa diz passar de 1.500 anos. Como este é um site de Astrologia e como estou mais familiarizada com as pesquisas da Dra. Brady, vou me reportar a ela. Mas este é um assunto que pretendo estudar mais a fundo para entender a origem da divergência entre essas duas fontes. Quando tiver tempo para pesquisar e cruzar os dados de Brady com os da Nasa e conseguir chegar às minhas próprias conclusões, voltarei a este assunto.
Voltemos então às Séries Saros.
Assim como tudo que tem um início, cada Série Saros pode ter uma mapa levantado para seu começo, porque começou num determinado momento, no Pólo Sul ou Norte. Cada Série Saros contém de 71 a 72 eventos ou Eclipses Solares e cada eclipse da série irá reverberar e trazer presente a qualidade do tempo em que foi iniciada, como uma assinatura, como todo e qualquer mapa natal. Portanto, quando falamos de um eclipse, precisamos analisar não só as configurações e a qualidade do tempo em que aquele eclipse em particular acontece, mas precisamos trazer presente também o “mapa natal” da Série Saros a que ele pertence, para que possamos ter uma imagem mais fidedigna. Do contrário, como diz a Dra. Brady, seria como querer analisar a floresta inteira tendo uma mão cheia de folhas, sem saber a quais árvores elas pertencem – ou seja, a imagem estaria não só incompleta, mas muita confusa e a análise seria totalmente parcial e não acurada. Então, cada Eclipse Solar e seu resultante Eclipse Lunar trará consigo as qualidades da série a que pertencem, alguns sendo muito tensos e críticos, outros sendo mais fluidos e tranquilos, cada um deles tendo também temas específicos realçados pelas configurações do seu “mapa natal”. E mesmo que os Eclipses Totais sejam mais carregados e potentes, ainda assim, reverberarão as qualidades daquele Eclipse Parcial minúsculo que iniciou toda a série, ocorrido cerca de 650 anos antes.
Em resumo, de acordo com Bernadette Brady, cada Série Saros tem um ciclo de aproximadamente 1.280 anos, nascendo num Pólo e morrendo no pólo oposto. Cada série produz um eclipse a cada 18 anos e 9 ou 11 dias, e cada um desse eclipses acontecerá cerca de 10 graus à frente do anterior na escala zodiacal. Os eclipses mais potentes ou “totais” ocorrem quando a série está trafegando a eclíptica terrestre, ou seja, num “cinturão” de cerca de 320 anos, entre o anos 480 e 800 do início da série.
Continua....
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