Conhece-te a ti mesmo

19 de jun. de 2018

I Ching – Hexagrama 59: Huan – Dispersão (Dissolução)

Arte de Adele Aldridge

Este poderoso hexagrama indica uma dispersão de pessoas e idéias. Da mesma forma que o vento desliza por uma superfície aquosa, enviando milhares de ondulações em seu caminho, esse hexagrama significa um tempo de muitas pequenas mudanças. Parcerias antigas se dissolvem, amigos se mudam ou o dinheiro parece ficar longe de você por um tempo.
Não fique preocupado.
O sábio sabe que um período de dispersão inevitavelmente dá origem ao retorno de outro ciclo de crescimento positivo.
Este hexagrama também pode referenciar amigos ou familiares que se afastam.
Dissolva tudo o que há de ruim na sua vida e os caminhos se abrirão.

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A DISPERSÃO
O vento soprando sobre a água vem a dispersá-la e dissolvê-la em espuma e vapor. Isso sugere que a energia vital de um homem, quando está acumulada em seu interior (o que é indicado como sendo perigoso pelo atributo do trigrama inferior), poderá ser libertada pela suavidade que dissolve o bloqueio.

JULGAMENTO

DISPERSÃO. Sucesso.
O rei aproxima-se de seu templo.
É favorável atravessar a grande água.
A perseverança é favorável.

O texto desse hexagrama assemelha-se ao do hexagrama Ts’ui, REUNIÃO (45). Lá trata-se da reunião dos elementos que se separaram, assim como a água se reúne sobre a terra, formando lagos. Aqui o tema é a dispersão e a dissolução do egoísmo que a tudo separa. O hexagrama DISPERSÃO mostra o caminho que, por assim dizer, conduz à reunião. Isso explica a semelhança dos dois textos.
Para superar o egoísmo que separa os homens é preciso recorrer a forças religiosas. O meio empregado pelos grandes governantes para unir os homens era a celebração comunitária das grandes festas de sacrifícios e ritos sagrados, que expressavam tanto a articulação social como a ligação existente entre a família e o estado. A música sacra e o esplendor das cerimônias envolviam as pessoas numa intensa emoção conjunta, depertando-lhes a consciência para a origem comum de todos os seres. Assim, a desunião era superada e a intransigência, dissolvida. Outro recurso consiste em promover a cooperação entre as pessoas num grande empreendimento comunitário que funcione como um objetivo superior aos interesses individuais. A concentração conjunta nessa finalidade comum dissolve todas as barreiras que provocam isolamento, assim como num barco, atravessando uma correnteza, todos a bordo precisam se unir, trabalhando coordenadamente. Porém, só um homem livre de todo e qualquer interesse pessoal, que seja constante em seu senso de justiça e firme em suas atitudes, será capaz de dissolver a rigidez do egoísmo.

IMAGEM

O vento sopra sobre as águas: a imagem da DISPERSÃO.
Assim, os reis da antigüidade ofereciam sacrifícios
ao Senhor, e construíam templos.

No outono e no inverno as águas começam a se congelar. Quando sopram as suaves brisas da primavera, a rigidez se dissolve e tudo o que se dispersara em blocos de gelo volta a se unir. O mesmo ocorre com as mentes das pessoas. A rigidez e o egoísmo endurecem o coração e essa rigidez leva o homem a se separar dos outros. O egoísmo e a cobiça isolam o homem. Por isso é necessário que uma emoção de devoção se apodere do coração dos homens. Eles precisam ser sacudidos por uma comoção religiosa diante da revelação da Eternidade, experimentando o tremor provocado pela intuição do Criador de todos os seres, e unindo-se através do poderoso sentimento de fraternidade experimentado durante o ritual de adoração da divindade.

LINHAS

Seis na primeira posição significa:
Ele traz ajuda com a força de um cavalo.

É importante que a desunião seja vencida logo ao início, antes mesmo que se instale; que as nuvens sejam dissipadas antes de se transformarem em tempestade e chuva.
Em tais épocas, quando estados de ânimo divergentes que permaneciam velados vêm a se manifestar provocando incompreensões mútuas, é necessário uma ação rápida e vigorosa para dissolver esses desentendimentos e desconfianças recíprocos.

Nove na segunda posição significa:
Durante a dispersão ele corre em direção ao que lhe dá apoio.
O arrependimento desaparece.

Quando um indivíduo descobre em si os primeiros sinais de alienação dos outros, de misantropia e mau humor, deve procurar dissolver esses obstáculos. Deve, o mais rápido possível, se pôr em marcha interiormente, rumo ao que lhe dá apoio. Tal apoio nunca é encontrado no ódio, mas sempre e somente num julgamento moderado e justo dos homens, aliado à benevolência. Quando se recupera essa visão desobstruída da humanidade, dissolvendo-se todo o mau humor irascível, desaparecem todos os motivos para arrependimento.

Seis na terceira posição significa:
Ele dissolve seu ego.
Nenhum arrependimento.

Em certas circunstâncias o trabalho de um homem pode se tornar tão árduo que não lhe permite mais pensar em si mesmo. Ele precisa deixar de lado qualquer desejo pessoal e dissolver tudo o que o ego reuniu em torno de si como barreira contra os outros. Somente com base em uma grande renúncia é possível reunir a força necessária para realizações importantes. Essa atitude é alcançada apenas quando o homem tem como meta uma tarefa elevada, que transcenda seus interesses próprios.

Seis na quarta posição significa:
Ele se separa de seu grupo.
Sublime boa fortuna!
Através da dispersão chega-se à acumulação.
Os homens comuns não pensam nisso.

Quando se trabalha numa tarefa que visa ao bem comum, deve-se pôr de lado todas as amizades pessoais. Só colocando-se acima dos interesses partidários se pode realizar uma obra decisiva. Aquele que tem a coragem de renunciar ao que lhe está próximo, conquista o que está distante. Mas para poder entender esse ponto de vista é preciso ter uma visão ampla das inter-relações da vida, a que só homens excepcionais conseguem.

Nove na quinta posição significa:
Seus fortes gritos dissolvem como o suor.
Dispersão! Um rei permanece sem culpa.

Em épocas de dispersão e separação geral, uma grande idéia funciona como um núcleo em torno do qual se organiza a recuperação. A transpiração liberadora é sinal de que a fase crítica de uma doença está sendo deixada para trás; assim também uma grande e estimulante idéia pode ser a salvação em épocas de impasse. Os homens têm então um ponto de convergência em torno do qual podem se reunir: um governante capaz de dissolver os equívocos.

Nove na sexta posição significa:
Ele dissolve seu sangue.
Partir, manter-se afastado, sair não envolve culpa.

A dissolução do sangue significa a dispersão do que poderia gerar derramamento de sangue e ferimentos; o mesmo, portanto, que evitar o perigo. Mas a idéia expressa aqui não indica apenas que um homem evite o perigo, e sim que ele procure salvar os seus, ajudando-os a partir antes que o perigo surja, ou mantendo-os afastados de um perigo já existente, ou ainda auxiliando-os a encontrar uma saída para um perigo que já os ameaça. Desse modo ele faz o que é correto.

Fonte: Richard Wilhelm – I Ching

18 de jun. de 2018

I Ching – Hexagrama 60: Chieh - Limitação


Arte de Adele Aldridge

Este hexagrama é um lembrete de limites e bordas. Implica contenção e conservação de fundos e energias.
Financeiramente, esta é a hora de apertar o cinto.
Um momento para respeitar os limites da saúde e segurança.
Momento para reconhecer os limites que os outros definem.
Aceitar os seus limites e dos outros é prova de grande Sabedoria.
Descubra sua linha na areia. Seja conservador em seus assuntos e as portas para o sucesso permanecerão abertas.
Assim como a margem dá forma a um lago, também as bordas e limites dão forma à sua vida. Conheça essas linhas e o que está dentro delas crescerá em poder e significado.
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LIMITAÇÃO
O lago ocupa um espaço limitado. Quando recebe água demais, transborda. Por isso deve-se pôr limites à água. A imagem apresenta água abaixo e água acima, com o firmamento entre elas. servindo de limite.
A palavra chinesa para limitação refere-se, na realidade, aos nós que dividem um talo de bambu. Na vida diária, este termo significa a economia que fixa limites às despesas. Em relação à esfera moral, ela representa os limites firmes que o homem superior impõe às suas ações, os limites da lealdade e do desinteresse.

JULGAMENTO

LIMITAÇÃO. Sucesso.
Não se deve perseverar ao se exercer uma limitação amarga.

Limitações são penosas, mas eficazes. Vivendo de modo econômico em épocas normais, o homem está preparado para os períodos de carência. Sendo comedido ele evita humilhações. Limitações são também indispensáveis para a ordenação das circunstâncias do mundo. A natureza tem limites fixos para o verão e o inverno, para o dia e a noite, e são esses limites que dão sentido ao ano. Do mesmo modo a economia, ao fixar limites precisos para as despesas, garante a preservação dos bens, evitando que as pessoas sofram prejuízos.
Mas limitações devem ser aplicadas de forma equilibrada. Se um homem tenta impor restrições muito amargas à sua própria natureza, isso lhe será prejudicial. Se ele exagera ao impor limites aos outros, eles se rebelarão. Portanto, é necessário fixar limites até mesmo às limitações.

IMAGEM

Água sobre o lago: a imagem da LIMITAÇÃO.
Assim, o homem superior cria número e medida,
examina a natureza da virtude e da conduta correta.

O lago é limitado, a água, inesgotável. O lago só pode conter uma parcela restrita da quantidade indefinida de água existente no mundo. Nisso consiste sua particularidade. Do mesmo modo a vida humana adquire um significado quando o homem exerce um discernimento seletivo e estabelece limites. Aqui, portanto, a questão será definir com clareza essas distinções, que são como que a espinha dorsal da moralidade. Possibilidades ilimitadas não são próprias ao homem. Caso fossem disponíveis, levariam a vida humana a dissolver-se na indeterminação. Para que o homem se fortaleça, sua vida necessita de limites impostos pelo dever e aceitos voluntariamente. A pessoa humana só adquire relevância enquanto espírito livre, quando se impõe limites e determina de forma espontânea o seu dever.

LINHAS

Nove na primeira posição significa:
Não ir além da porta e do pátio não implica em culpa.

Muitas vezes um homem gostaria de realizar algo, porém se vê diante de limitações intransponíveis. É necessário, então, que ele saiba discernir em que ponto deve parar. Se ele compreende isso claramente e respeita os limites que lhe foram impostos, poderá reunir a energia necessária para agir com firmeza, quando chegar o momento adequado. Durante a preparação de coisas importantes, a discrição é indispensável.
Confúcio comentando essa linha disse: “Quando surge a desordem, as palavras são o primeiro degrau. Se o príncipe não é discreto, ele perde seu vassalo. Se o vassalo não é discreto, ele perde sua vida. Se aquilo que está ainda germinando não for tratado com discrição, seu desenvolvimento será prejudicado. Por isso o homem superior é cuidadoso ao manter silêncio e não vai além do que deve”.

Nove na segunda posição significa:
Não ir além do portão e do pátio traz infortúnio.

Quando chega o momento de agir é necessário se proceder com rapidez. A água, num lago, primeiro se acumula sem transbordar, mas quando ele estiver cheio, sem dúvida encontrará uma saída. O mesmo ocorre na vida humana. A hesitação é benéfica enquanto o momento de agir ainda não chegou, e nociva se prossegue após ele ocorrer. Uma vez que os obstáculos para a ação foram removidos e um homem, ansioso, ainda hesita, comete um erro que tende a provocar desastre, pois perde sua oportunidade.

Seis na terceira posição significa:
Aquele que não conhece limitação alguma
terá motivo para lamentar-se. Nenhuma culpa.

Se um homem pensa apenas em prazeres e divertimentos, perde facilmente o sentido dos limites necessários. Entregando-se à dissipação ele terá que sofrer as conseqüências quando, então, lamentará seu infortúnio. Mas ele não deve procurar culpar os outros. Só quando um homem reconhece que é responsável por seus próprios erros é que se torna capaz de aprender com essas experiências dolorosas a evitar novas faltas.

Seis na quarta posição significa:
Limitação satisfeita. Sucesso.

Toda limitação tem seu valor. Mas nos casos em que requer um esforço constante, acarreta um gasto excessivo de energia. Quando, porém, a limitação é algo natural (como por exemplo na tendência da água de fluir sempre e somente na direção dos declives), conduz necessariamente ao sucesso, porque neste caso há uma economia de energia. A energia que de outro modo seria consumida num combate inútil com o seu objetivo, aqui é aplicada em benefício do que se está executando. O sucesso é, portanto, certo.

Nove na quinta posição significa:
Doce limitação traz boa fortuna.
Ir adiante traz estima.

Para ser eficaz, a limitação deve ser aplicada da forma correta. Se um homem procura impor restrições somente aos outros, enquanto ele próprio as evita, tais limitações tendem a causar ressentimentos e resistência. Quando, ao contrário, um homem numa posição de comando começa por impor limitações a si mesmo, exige pouco de seus companheiros e realiza algo com recursos modestos, o resultado será boa fortuna. Esse exemplo, onde quer que ocorra, propagará sua influência fazendo adeptos e seguidores. Por isso, tudo que se empreender terá sucesso.

Seis na sexta posição significa:
Limitação amarga.
A perseverança traz infortúnio.
O remorso desaparece.

Quando se impõem limitações demasiado severas, as pessoas não as suportam. Quanto mais se persistir nesse rigor, tanto pior, pois ao final uma reação é inevitável. Do mesmo modo o corpo torturado reagirá, vingando-se, quando submetido a um ascetismo excessivo. Porém, ainda que essa severidade impiedosa não deva ser aplicada constante e regularmente, podem haver épocas nas quais esse seja o único meio de se evitar culpas e remorso. Em tais situações, a intransigência em relação a si próprio é a única forma de salvar sua alma, que de outro modo sucumbiria à indecisão e à tentação.

Fonte: Richard Wilhelm – I Ching

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