Expressar os sentimentos é importante tanto para a saúde quanto para
as relações pessoais e profissionais. “A nossa percepção de mundo é
formada por nossas emoções, pensamentos e sentimentos. Dependendo de
nossas disposições pessoais ou momentâneas, podemos fazer conjecturas
que interpretem de maneira errônea situações e atitudes, levando-nos a
reagir ou tomar decisões pouco funcionais. Expressar-se permite fazer
saber ao outro como nos sentimos em relação a algo e, com isso, abrir a
possibilidade de conhecer também como o outro se sente e vê a situação”,
afirma a psicóloga Ana Lúcia Martins Silva, do Serviço de Psicologia do
Hospital Israelita Albert Einstein. “Quanto mais expressamos nossas
emoções e sentimentos, mais nos permitimos compreender a nós mesmos e a
quem está próximo de nós”, ratifica o psicólogo clínico Fabio Pezzuto
Pereira, pós-graduando em Neuropsicologia pela Faculdade de Ciências
Médicas da Santa Casa de São Paulo.
No entanto, expressar o que se sente não é fácil para todas as
pessoas. “A dificuldade pode ser derivada de inúmeros aspectos, como uma
característica da personalidade, questões culturais, problemas do
humor, entre outros”, explica Ana Lúcia.
"EXPRESSAR OS SENTIMENTOS É SAUDÁVEL TANTO PARA OS RELACIONAMENTOS QUANTO PARA O CORPO E A MENTE, ALÉM DE DESPERTAR UM NOVO OLHAR PARA O AUTOCONHECIMENTO"
“Reprimimos [as emoções] porque aprendemos que, socialmente, muitos
sentimentos não são sinônimos de ‘boa educação’ ou porque nem
desenvolvemos a capacidade de reconhecê-los”, acrescenta a psicóloga
Tania Aldrighi Flake, professora do curso de Psicologia da Universidade
Anhembi Morumbi. “Geralmente, são nossos próprios conflitos internos,
como a desconfiança, o medo, a vergonha e a prepotência que nos impedem
de expressar nossos sentimentos”, comenta Fabio.
Mas é importante saber que expressar os sentimentos faz parte da receita
para uma vida saudável. “A repressão das emoções é uma das principais
causas de vícios, abuso, depressão e outros tipos de doenças em nossa
cultura”, alerta Tania. Fabio explica que a nossa mente não está
dissociada do nosso corpo. “Ao canalizarmos nossa força para reprimir
nossos sentimentos, o corpo, através de sintomas físicos, passa a
manifestar o nosso conflito interno. Como exemplo, podemos pensar na
gastrite, ou na enxaqueca, que desenvolvemos quando enfrentamos um
período de maior estresse ou de preocupação”, esclarece. “Quando
guardamos uma mágoa, podemos logo identificar o impacto na nossa
respiração, nos batimentos cardíacos”, recorda Tania. Segundo Ana Lúcia,
“o isolamento social, que é uma das características de quem expressa
pouco os sentimentos, vem sendo apontado pela literatura como um fator
predisponente à doença arterial coronariana (um tipo específico de
doença cardíaca). Ainda não se sabe explicar qual o mecanismo
responsável por este fenômeno, mas a reatividade fisiológica provocada
por emoções negativas e escolhas de vida que prejudicam a saúde geral
tem sido hipótese”.
“MUITA GENTE CONFUNDE ‘EXPRESSÃO DE SENTIMENTOS’ COM DESPEJAR ‘TUDO’ NA PESSOA QUE ESTIVER MAIS PRÓXIMA OU NA QUE FOR O PIVÔ DA SITUAÇÃO”
Não existe uma única maneira de se manifestar os sentimentos. Fabio
recorda que eles também são expressos “através do movimento facial, de
um sorriso, de um olhar, do choro, de algum movimento corporal ou
qualquer comportamento semelhante”, mas como fazê-lo verbalmente, da
maneira e no momento que sejam mais propícios? “O caminho é nos
posicionarmos com equilíbrio, buscando nos expressar de maneira
verdadeira e, ao mesmo tempo, prudente, de acordo com cada situação”,
sugere o psicólogo. Segundo Tania, “muita gente confunde ‘expressão de
sentimentos’ com despejar ‘tudo’ na pessoa que estiver mais próxima ou
na que for o pivô da situação. Expressão saudável de sentimentos é
conseguir manifestar e liberar as emoções sem ferir o outro ou a si
próprio, ou seja, quando os sentimentos são expressos sem intenção de
prejudicar o outro ou que o outro seja a nossa válvula de escape. Isto
requer aprendizagem e, antes de tudo, conhecer a si próprio”, enfatiza.
Para Ana Lúcia, “o melhor é expor os sentimentos de maneira assertiva,
em um momento em que haja tempo, segurança e confiança” para tal. “Para
isso, é preciso autoconhecimento e um trabalho consciente na construção
dos relacionamentos”, reforça a psicóloga.
Publicada originalmente em Revista Em Dia
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