Conhece-te a ti mesmo

10 de mai. de 2017

I Ching – Hexagrama 29: K'an - O Abismal (Água)

Imagem de Adele Aldridge
O perigo tem origem na nossa ansiedade. Quando ansiamos demais por uma determinada solução, lutamos para acabar com o desconforto. Mas essa luta é em vão porque, nela, abandonamos a paciência e nos entregamos ao voluntarismo e até ao desespero. Desejamos rápidos progressos, mas o I Ching diz que é o caminho lento que leva a mudanças duradouras. Forçar o progresso é um erro que está ligado ao nosso orgulho. E este, por sua vez, dificulta nossa caminhada dentro dos padrões da perseverança, humildade e paciência.

Pensar em desistir da luta é um grande perigo.
                                                     Mantenha-se firme.

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Este hexagrama consiste na repetição do trigrama K’an, sendo, portanto, um dos oito hexagramas em que um mesmo trigrama se repete acima e abaixo. K’an significa precipitar-se. Uma linha Yang precipitou-se entre duas linhas Yin e é aprisionada por elas, assim como a água num desfiladeiro. K’an é também o filho do meio. O Receptivo recebeu a linha média do Criativo e assim se formou K’an.
Enquanto imagem é a água, a água que vem do alto e que se movimenta na terra em rios e correntezas, dando origem a toda a vida. Aplicado ao homem, representa o coração, a alma aprisionada no corpo, o princípio de luz contido na escuridão, ou seja, a razão. O nome do hexagrama possui ainda o significado adicional de “repetição do perigo”, em virtude da duplicação do trigrama K’an.
Assim o hexagrama procura indicar uma situação objetiva à qual é preciso acostumar-se, e não uma atitude subjetiva. Pois o perigo devido a uma atitude subjetiva significa temeridade ou astúcia. Assim sendo, o perigo será simbolizado pelo desfiladeiro, isto é, uma condição na qual o homem se encontrará como a água num desfiladeiro e do qual poderá sair se, assim como a água, mantiver a conduta correta.

JULGAMENTO

O ABISMAL repetido.
Se você é sincero, terá o sucesso em seu coração
e tudo o que fizer terá êxito.
A medida que um perigo se repete, o homem tende a se acostumai a ele. A água dá o exemplo da conduta correta nessas condições. Prossegue fluindo e vai preenchendo todas as depressões que encontra. Não vacila ante nenhuma passagem perigosa, não retrocede ante nenhuma queda, e nada a faz perder sua natureza essencial. Ela permanece fiel a si mesma em todas as circunstâncias. Assim também, se uma pessoa for sincera quando confrontada com dificuldades, seu coração chegará ao significado da situação. E quando se consegue dominar interiormente um problema, o sucesso acompanhará de maneira natural as ações. Diante do perigo é preciso ser meticuloso, fazendo tudo o que for necessário, para então seguir adiante de modo a não perecer por demorar-se no perigo.
Usado corretamente, o perigo pode ter um importante significado como medida de precaução. Assim, o céu tem sua altura perigosa, protegendo-o de qualquer tentativa de ataque. Da mesma forma a terra tem montanhas e águas, separando os países através do perigo. Os governantes também utilizam o perigo para se defenderem de ataques externos e de tumultos internos.

IMAGEM

A água flui ininterruptamente, e chega à sua meta:
a imagem do AB1SMAL repetido.
Assim, o homem superior caminha em constante virtude
e exerce o magistério.
A água alcança sua meta fluindo ininterruptamente. Ela preenche todas as depressões antes de fluir adiante. O homem superior segue esse exemplo e procura fazer com que o bem se torne um atributo consolidado em seu caráter, e não apenas uma ocorrência ocasional e isolada. Do mesmo modo, o ensino também requer constância, pois só a repetição da matéria permite que o aluno a assimile.

LINHAS

Seis na primeira posição significa:
A repetição do abismai.
No abismo, se cai num fosso.
Infortúnio.
Acostumando-se ao perigo, o homem pode com facilidade torná-lo parte de si mesmo. O perigo lhe é familiar e assim ele se acostuma ao mal. Perde, deste modo, o caminho correto e o infortúnio é a conseqüência natural.

Nove na segunda posição significa:
O abismo é perigoso.
Deve-se procurar alcançar apenas pequenas coisas.
Quando o homem está em perigo, não deve tentar escapar de qualquer maneira. Ao início deve se contentar com que o perigo não o vença. Deve considerar com serenidade as circunstâncias do momento, contentando-se com pequenas vitórias, já que por enquanto não é possível alcançar um grande sucesso. Uma fonte começa a fluir aos poucos, e demora algum tempo até abrir um caminho livre.

Seis na terceira posição significa:
Para adiante e para trás.
Abismo sobre abismo.
Num perigo como esse, detenha-se ao início e espere.
Senão você cairá num fosso no abismo.
Não atue assim.
Aqui qualquer passo para diante ou para trás conduz ao perigo. Escapar é impossível. Assim sendo, deve-se evitar a ação, pois isso mergulharia ainda mais no perigo. Ainda que seja desagradável permanecer em tal situação, deve-se esperar até que surja uma saída.

Seis na quarta posição significa:
Uma jarra de vinho, uma tigela de arroz,
louça de barro, simplesmente entregues pela janela.
Isso por certo não implica em culpa.
Em épocas de perigo as formalidades convencionais são abandonadas. O principal é a sinceridade. Em condições normais, o funcionário que aspirava a um cargo devia trazer certas oferendas e recomendações antes de ser nomeado. Tudo aqui está simplificado ao máximo. As oferendas são modestas, não há ninguém para recomendá-lo e ele tem de fazer sua própria apresentação. No entanto, não deve se envergonhar por isso, se existir apenas a sincera intenção de prestar uma ajuda mútua no perigo.
Outra idéia ainda é sugerida: é através da janela que a luz entra num aposento. Se, em épocas difíceis, se quer esclarecer alguém, deve-se começar pelo que é mais evidente e claro, para então se prosseguir a partir daí.

Nove na quinta posição significa:
O abismo não está cheio a ponto de transbordar,
está cheio apenas até a borda.
Nenhuma culpa.
O perigo surge de um desejo de ascensão desmedida. Para sair do desfiladeiro, a água não se acumula em seu interior senão até alcançar o ponto mais baixo da borda, por onde então flui. Do mesmo modo quando em perigo, o homem deve procurar a linha de menor resistência para assim poder alcançar sua meta. Em tais épocas grandes realizações são inexeqüíveis. Sair do perigo já é o suficiente.

Seis na sexta posição significa:
Amarrado com cordas e cabos,
aprisionado entre as muralhas de uma prisão,
cercado de arbustos espinhosos.
Durante três anos não se consegue encontrar o caminho.
Infortúnio.
Um homem que, em meio a um extremo perigo, perde o caminho correto e que está irremediavelmente envolvido num emaranhado de erros, não tem nenhuma perspectiva de saída desta situação perigosa. Assemelha-se a um criminoso amarrado atrás das muralhas de uma prisão cercada de arbustos espinhosos.

Fonte: Richard Wilhelm – I Ching

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