Imagem de Adele Aldridge |
Uma transição do caos
à ordem é referenciada por este
hexagrama.
O I Ching enfatiza que, nas fases em que nos sentimos mais
seguros, a paz só será mantida se lembrarmos da possibilidade do perigo.
“E o mais importante é evitarmos qualquer tipo de pensamento
desestabilizador, capaz de perturbar nosso equilíbrio e independência interior.
O desenvolvimento deve caminhar lentamente, em pequenos passos. Enquanto isso,
mantemos a reserva, a paciência, sem forçar o avanço da situação.” (Wu Fang)
Conclusão
e início
estão profundamente conectados.
Apenas
uma parte de sua viagem está
terminando.
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Após a Conclusão
Esse
hexagrama é um desenvolvimento do hexagrama T’ai, PAZ (11). A transição da
desordem à ordem completou-se, e agora todas as coisas se encontram em seus
devidos lugares, até mesmo em detalhes. As linhas fortes estão nas posições
fortes, as linhas fracas, nas posições fracas. Esse é um aspecto muito
favorável e, no entanto, é ao mesmo tempo um motivo para preocupação. Pois é
exatamente quando se alcança o equilíbrio perfeito que qualquer movimento pode
levar à desordem. A linha forte que se dirigiu para o alto, conseguindo assim a
completa ordem nos detalhes, é seguida por outras; cada uma dessas linhas se
move de acordo com a sua natureza e, de repente, reaparece o hexagrama P’i, ESTAGNAÇÃO
(12). Portanto, o presente hexagrama indica as condições de uma época de
apogeu, a qual requer a mais extrema cautela.
JULGAMENTO
Sucesso em pequenas coisas. A perseverança
é favorável.
Ao começo, boa fortuna; ao final, desordem.
A
transição do antigo ciclo para o novo já se realizou. Em princípio tudo está em
ordem, com apenas alguns detalhes nos quais o êxito ainda não foi obtido. Em
relação a isso, porém, deve-se ter o cuidado de manter a atitude correta. Tudo
parece prosseguir no rumo certo de maneira tão natural que o homem facilmente é
tentado a relaxar em seu esforço, deixando que as coisas sigam seu próprio
curso, sem se preocupar com detalhes. Porém, essa indiferença é a raiz de todos
os males, acarretando, como consequência necessária, os sinais de decadência.
Aqui se enuncia a regra que, em geral, determina a história. Mas essa regra não
é uma lei inexorável. Aquele que a compreende poderá evitar seus efeitos graças
a uma incessante perseverança e cautela.
IMAGEM
Água sobre fogo: a imagem da condição de
APÓS A CONCLUSÃO.
Assim, o homem superior reflete sobre o
infortúnio
e previne-se antecipadamente contra ele.
Quando
uma chaleira com água se encontra sobre o fogo, os dois elementos interagem e
assim gera-se energia (a produção do vapor). Porém, a tensão que isso produz
exige cautela. Se a água ferve e transborda, o fogo se apaga e a energia é
perdida. Se o calor for demasiado, a água evapora. Os elementos que aqui se
encontram em interação gerando energia são, por natureza, hostis um ao outro.
Só a máxima cautela pode evitar danos. Na vida também há situações em que todas
as forças estão em equilíbrio, interagindo em harmonia. Tudo então parece estar
em ordem. Em tais períodos só o sábio reconhece os sinais que pressagiam o
perigo e sabe como evitá-lo, providenciando, em tempo, medidas preventivas.
LINHAS
Nove
na primeira posição significa:
Ele
freia suas rodas.
Sua
cauda mergulha na água.
Nenhuma
culpa.
Nos
períodos após uma grande transição tudo pressiona para adiante, em direção ao
desenvolvimento e ao progresso. Mas esse ímpeto de avanço, quando ainda se está
no começo, não é benéfico, excedendo-se à meta, conduz sem dúvida a perdas e
colapso. Por isso um homem de caráter forte não se deixa envolver pela agitação
geral e se detém a tempo. Mesmo assim, ele ainda pode ser afetado pelas consequências
desastrosas da pressão geral. Mas seria, então, atingido apenas nas costas,
assim como uma raposa que, tendo cruzado a água, deixa que ao final da
travessia sua cauda se molhe. Isso não acarreta danos sérios, pois sua conduta
foi correta.
Seis
na segunda posição significa:
A
mulher perde a cortina de sua carruagem.
Não
corra atrás dela;
no
sétimo dia você a receberá de volta.
Quando
uma mulher viajava em carruagem, uma cortina a resguardava dos olhares
curiosos. Seria considerado contrário aos bons costumes seguir viagem caso essa
cortina se perdesse. Aplicado à vida pública, isso significa que um homem que
deseja realizar algo não recebe de parte das autoridades competentes a
confiança de que necessita para sua proteção pessoal. Especialmente no período
após conclusões é possível que aqueles que alcançaram o poder tornem-se
arrogantes e presunçosos, não mais procurando promover novos talentos. Em geral
isso tem como consequência o arrivismo. Um homem em quem seus superiores não
depositam confiança tenta conquistá-la por todos os modos e meios e procura
chamar a atenção sobre si. Esse procedimento indigno é desaconselhado. “Não o procure”.
Ele não deve se rebaixar diante do mundo, mas esperar com tranquilidade,
desenvolvendo seu valor através do esforço próprio. Os ciclos mudam.
Transcorridas as seis etapas do hexagrama, uma nova era surgirá. O que pertence
a um homem não pode ser perdido para sempre. O que lhe pertence retornará
naturalmente. Ele precisa apenas saber esperar.
Nove
na terceira posição significa:
O
Ilustre Ancestral castiga a terra do diabo.
Depois
de três anos ele a conquista.
Não se
devem empregar homens inferiores.
O
“Ilustre Ancestral” é o título dinástico do Imperador Wu Ting, da dinastia Yin.
Depois de ter posto em ordem o seu reino com pulso firme, manteve prolongadas
guerras coloniais procurando subjugar os Hunos, que ocupavam as terras na
fronteira norte, e que representavam uma constante ameaça de invasão. A
situação aqui descrita é a seguinte: na época após a conclusão, um novo poder
se impõe e tudo dentro do país é posto em ordem. Então, a seguir, é quase
inevitável a vinda de um período de lutas visando a uma expansão colonial. Em
geral, isso resulta em guerras de longa duração. Por isso uma correta política
de colonização é de extrema importância. Territórios conquistados com tamanho
sacrifício não devem ser encarados como um asilo para quem, tendo se tornado de
algum modo indesejável em sua própria terra, servisse, no entanto, para as
colônias.
Tal
atitude arruína já de início qualquer possibilidade de sucesso. Isso é válido
tanto em assuntos de pequenas proporções como em problemas de maior dimensão.
Não são apenas os países em expansão que praticam uma política colonial. O
desejo impetuoso de se expandir, o qual traz consigo tantos perigos, é parte de
qualquer empreendimento ambicioso.
Seis
na quarta posição significa:
As
melhores roupas viram farrapos.
Seja
cauteloso durante todo o dia.
Em
épocas de florescimento cultural convulsões ocasionais tendem a ocorrer,
trazendo à tona males latentes na sociedade, o que, ao início, causa grande
agitação. Entretanto, como a situação, em termos gerais, é favorável, esses
males podem ser reparados com facilidade e mantidos fora do alcance do público.
Então tudo é esquecido e uma paz superficial volta a reinar. Porém, para o
homem que sabe discernir, tais ocorrências são graves indícios, aos quais ele
não negligencia. Esse é o único meio de se evitar consequências nefastas.
Nove
na quinta posição significa:
O
vizinho do leste que sacrifica um boi
não
consegue uma felicidade tão verdadeira
quanto
o vizinho do oeste com sua pequena oferenda.
A
atmosfera espiritual que prevalece no período após a conclusão influencia
também as atitudes religiosas. Nos cultos ao divino, a simplicidade das antigas
formas é substituída por ritos cada vez mais elaborados e por uma pompa externa
cada vez maior. Mas essa ostentação carece de seriedade interior. A arbitrariedade
humana toma o lugar da obediência conscienciosa à vontade divina. Mas enquanto
o homem vê o que está diante de seus olhos, Deus vê o coração. Por isso um
culto grandioso, porém desprovido de emoção, não recebe tantas bênçãos quanto
um sacrifício simples, porém oferecido com verdadeira devoção.
Seis
na sexta posição significa:
Ele
mergulha a cabeça na água.
Perigo.
Aqui,
na conclusão, outra advertência é acrescentada. Depois de haver cruzado as
águas, uma pessoa só mergulhará sua cabeça se for tão imprudente a ponto de
voltar atrás. Na medida em que continua seguindo adiante, sem olhar para trás,
escapará a esse perigo. Mas há um certo fascínio em parar e olhar o que passou,
contemplando o perigo que já foi superado. Porém, essa fútil auto admiração traz
infortúnio, expondo o homem a riscos. Ele acabará sendo vítima desse perigo, a
menos que finalmente se decida a seguir adiante sem se deter.
Fonte: I Ching, o Livro das
Mutações – Richard Wilhelm